Jornalista Josias de Souza:
“Na campanha de
2022, Lula declarou: ‘Se a gente ganhar, vai ter que dar um jeito no
centrão.’ A caminho da sucessão de 2026, Lula é como que ajeitado pelo
grupo. O centrão e suas ramificações impõem ao presidente da República
uma novidade desconcertante: o governismo de oposição.
Na
costura da reforma ministerial, legendas como PP, União Brasil, PSD e
Republicanos reivindicam com apetite governista mais cofres na
Esplanada. Nas composições para a próxima sucessão, chefes das mesmas
legendas falam como líderes de oposição. O que era apenas sussurrado no
escuro ganha a ribalta.
Um dia depois de Gilberto
Kassab, dono do PSD, ter afirmado que Lula seria derrotado se a eleição
presidencial fosse hoje, Marcos Pereira, presidente do Republicanos,
disse: 1) O governo está ‘sem rumo’; 2) A tendência do seu partido é
apoiar um nome de centro-direita, não Lula.
Há
dez dias, Lula proclamou numa reunião ministerial: ‘2026 já começou’.
Nesta quarta, atrasou o relógio: ‘Quando vi a história do Kassab,
comecei a rir. Olhei no calendário e vi que a eleição vai ser só daqui a
dois anos.’ Sobre o apoio do Republicanos, pediu calma: ‘Não vamos
antecipar dois anos’.
O centrão e o Planalto dançam
a coreografia da empulhação. Lula está na bica de passar seu ministério
a sujo a pretexto de obter votos no Congresso e apoio nas urnas. Os
partidos querem ordenhar os cofres do governo com o descompromisso da
oposição.
Esse arranjo pode converter matrimônio político em patrimônio. Mas não serve para dar ao país algo que se pareça com um rumo.”